"PALAVRAS NÃO SÃO A ÚNICA MANEIRA DE SE DIZER ÀS PESSOAS O QUE SE QUER DIZER."

20 julho, 2009

Das relações humanas

Não acredito que o que vou escrever aqui dê conta de todos os tipos de relações humanas, e muito menos que seja possível abarcar todos os tipos de exceções existentes nas relações humanas. Aqui apresento apenas um ensaio sobre algumas impressões que as relações de modo geral têm me passado. Para tanto parto de um dos pré-socráticos: Pitágoras, o pai do dualismo.

Pitágoras coloca o número na essência das coisas, cria o dualismo, no qual para se ter o próximo (o segundo) elemento é necessário se ter o primeiro, gerando uma tensão entre os dois princípios. Desta maneira, tudo é Um, e se tudo é Um, o Um já é o Dois, pois a díade só existe porque existe a monada, mas na monada já está implícita a idéia da díade. Portanto, a díade que a monada é, é intrínsecamente a díade. Sempre em cada um deles haverá a presença de cada outro. Visto que, se o Uno é, ele já é o infinito e o múltiplo, mas não é apenas a reiteração do Um. O Uno não poderia ser o múltiplo, afinal o Todo também o é; e nem poderia ter uma relação com ele mesmo, pois ele mesmo seria o Duo. Contudo, o Uno é Todo, e portanto é Múltiplo, pois para ser o Uno absoluto ele deveria ser nenhum, e partir do Uno que existe já afirma que ele é, e assim sendo, ele já é Duo.



Vejamos os 10 pares de opostos (contrários):

1-Limite / Ilimitado
2-Ímpar / Par
3-Um / Múltiplo
4-Direita / Esquerda
5-Masculino / Feminino
6-Quieto / Em movimento
7-Reto / Curvo
8-Luz / Trevas
9-Bom / Mal
10-Quadrado / Oblongo



Desta maneira, depois de explicitar a teoria Pitagórica dualista, e lembrando a lista acima de contrários que ele compôs de "qualidades" que não existem sem seus respectivos opostos, precisamos no reportar para os dias atuais, nos quais as relações humanas são explicitamente compostas de opostos. Usaremos como exemplo disso uma música atual do músico e compositor Paulinho Moska, segue abaixo a letra:

A Seta e o Alvo (Paulinho Moska)

Eu falo de amor à vida,
Você de medo da morte.
Eu falo da força do acaso
E você de azar ou sorte.

Eu ando num labirinto
E você numa estrada em linha reta.
Te chamo pra festa,
Mas você só quer atingir sua meta.
Sua meta é a seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.

Eu olho pro infinito
E você de óculos escuros.
Eu digo: "Te amo!"
E você só acredita quando eu juro.

Eu lanço minha alma no espaço,
Você pisa os pés na terra.
Eu experimento o futuro
E você só lamenta não ser o que era.
E o que era?
Era a seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.

Eu grito por liberdade,
Você deixa a porta se fechar.
Eu quero saber a verdade
E você se preocupa em não se machucar.

Eu corro todos os riscos,
Você diz que não tem mais vontade.
Eu me ofereço inteiro
E você se satisfaz com metade.
É a meta de uma seta no alvo,
Mas o alvo, na certa não te espera!

Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada,
Quando se parte rumo ao nada?

Sempre a meta de uma seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.

Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada,
Quando se parte rumo ao nada?

Na música acima notamos explicitamente como uma relação nos dias atuais se dá. As pessoas não mais querem se envolver de verdade, e tão pouco procuram entender os pontos de vista do outro. Esquecem que a única maneira de se conhecer de fato alguém é convivendo e sabendo ser tolerável. Na letra da música um aposta na totalidade e na possibilidade, enquanto o outro se entrega às pequenas partes e insuguranças da vida moderna.


Afinal, porque é tão difícil se relacionar? Esse texto tá parecendo um texto composto de auto-ajuda misturado com Filosofia, esta não é a intenção acreditem! Estou apenas tentando usar a Filosofia para entender os dias atuais, as pessoas e suas relações. Se relacionar tem se tornado cada vez mais difícil, visto que as pessoas tem se tornado cada vez mais egoístas, visando apenas seus próprios interesses. Mas será que não foi sempre assim? Hobbes concordaria que sempre fomos assim, mas que antes não percebíamos. Será que percebendo que o mundo é composto de opostos, e que principalmente não sabemos ceder ao oposto que está em questão, tornamos a convivência muito mais rude e difícil, e ainda, tornamos as relações muito mais liquidas?


Se até Pitágoras compunha o mundo de através de opostos, e os via como inseparáveis, se até mesmo ele compunha o mundo através de uma rede relacional entre o um e o dois, ou seja, trazendo para o ambiente das relações humanas, entre o indivíduo e o próximo, porque não tornar os opostos uma ponte relacional, ao invés de um abismo infinito?


Não quero sugerir nenhuma solução aqui, apenas uma reflexão sobre o assunto. Sugiro que pensem na composição mundana dos opostos composta por Pitágoras e a traga para os dias de hoje num âmbito relacional humano.


Como caracterizar uma relação sem que haja ao menos duas pessoas envolvidas? Difícil, não?

2 comentários:

  1. Os comentários sobre mônada e díade me lembraram as aulas de Filosofia na faculdade e também o princípio da indução.

    Acho que não posso comentar mais do que já conversamos sobre esse assunto, em especial a associação dessa música com as relações que tivemos e sobre as quais compartilhamos experiências.

    Você ainda vai desenvolver mais esse tema das relações (seja isso bom ou mau) por aqui, poderá explorar outros pontos de vista e outros pensadores. Afinal, é um tema recorrente, não é? De fato, vivemos em sociedade.

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  2. Quero levantar uma questão aqui, será que realmente existe o oposto nas relações humanas modernas ? Gênero temos, mas será que o outro não é apenas um consciência pré formada, padrão, que está presente em todos nós e é programada para objetivos específicos? Oposto acaba por não existir e nos tornamos apenas um bando de indíviduos padrão com características bem definidas ( e extremamente simples ). Por isso os elos fracos, os relacionamento líquidos...
    bom tópico....

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