Tentarei nas próximas linhas, elucidar as dúvidas do Bruno - comentário do texto anterior.
Pois bem, a questão aqui não é o pensar a arte pela arte, e nem produzir por produzir um artefacto; o caso aqui é que o humano necessita fazer, produzir, conhecer, expressar. Ele está a todo momento se autoconstruindo, se afirmando, se singularizando, buscando sua autenticidade - são várias as terminologias usadas pelo filósofos durante a história da filosofia. Resumindo, poderia definir o ser humano como "homo faber", ele faz coisas, mas o faz por e para algo, faz pois deseja, quer, e principalmente projecta a sua vida em meio aos múltiplos desejos, características que nos levam a dizer que em tudo que o homem faz encontra-se ali a intencionalidade . Obviamente que criar e produzir são diferentes de actuar, e estas ações também dependem de aspectos do acaso, afinal a pólvora foi criada por acaso, mas só aplicada muito mais tarde, não? Entendo aqui actuar como um simplesmente acontecer, andar, ou uma pedra cair, ao passo que criar e produzir (no sentido moderno-contemporâneo) depende de uma inteligência ou mentalidade técnica, ou seja, uma maneira de pensar que foi introduzida no humano através do produzir e fazer técnico. Lembrando que os gregos nomeavam os artefactos técnicos/ utilitários e os artísticos através da mesma palavra: TECHNE.
Essa exposição inicial foi necessária para afirmar que não há arte sem sentimento ou expressão de algo - interpretação do mundo- se não existisse essas duas características na arte, produzir um quadro seria como produzir um carro nas linhas de produção, e essa não é a ideia da arte. O homem produz arte e artefactos porque possuem um objetivo com elas: os artefactos técnicos são por excelência uma intervenção no mundo, mas essa intervenção possui como finalidade a busca pelo bem-estar do homem, facilitando a supressão de suas necessidades. Mas não só isso, o homem ama produzir (conhecimento, arte, objetos), caso contrário o que seria de nosso existir se vivêssemos para nos alimentar e dormir? Pra que buscamos conhecer se não amassemos conhecer? É nossa essência conhecer, agir, e produzir. E a arte em si requer sentimento, interpretação, sensibilidade, e passar tais aspectos é o objetivo dela em si mesma.
Quanto a pensar o Humano sem atribuir o aspecto humano ao humano, posso dizer que ao se perguntar se isso é possível, já estás se autoafirmando como humano. É impossível pensar-nos sem algo que já nos caracteriza a priori. Qualquer intervenção que pensarmos estar fazendo em nossa humanidade, tentando ir contra ela, na verdade estaremos afirmando-a, pois estaremos exercitando o nosso desejo de mudar, criar, construir, aprender, conhecer, expressar, etc..
Respondi?
Sim =)
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