"PALAVRAS NÃO SÃO A ÚNICA MANEIRA DE SE DIZER ÀS PESSOAS O QUE SE QUER DIZER."

22 abril, 2011

Com o tempo a vida se faz

Quem de nós não está sujeito ao tempo? Não é possível dizer... Aliás acredito sinceramente que o tempo alimenta cada uma das vidas existentes com suas formas mais cruéis e surpreendentes possíveis.  Sem o tempo não nos modificaríamos, não seríamos mutáveis e flexíveis. Sem o tempo não seria possível aprender, e nem mesmo envelhecer com dignidade. Muitos acham que envelhecer é ruim e desastroso. Mas prefiro afirmar o que nossos pais sempre dizem e os pais de nossos pais também reafirmam : os mais velhos sabem mais do que nós, eles tem conhecimento de vida, eles tem sabedoria. O que eles tem a mais do que nós se refere a vivência que tiveram do mundo, e que nós ainda não tivemos. Eles podem não ter estudado o tanto que estudamos, ou nem mesmo saber como funciona um computador e os meios tecnológicos que hoje possuímos, mas eles sabem da vida. Sabem das peças que elas nos pregam; sabem quais reações serão geradas quando diante de um determinado fato; e no fundo sabem o que cada pessoa espera de uma outra numa determinada situação. Nossos pais sabem de nossas aflições, de nossos problemas e desejos. E não apenas porque são nossos pais, mas sim porque conhecem a vida.


Numa conversa com minha vó nas férias, aprendi muito, apesar dela não saber que estava me ensinando. Ela me contou fatos surpreendentes, falou de sua própria vida, do que gosta ou não de fazer. Falou de seus sacrifícios pelos filhos, de suas tristezas e alegrias. Me causou espanto (no sentido filosófico) com sua fé. Ela, ali, não sabia que estava me ensinando, e mal sabia o bem que me fazia. Mas ela, ali, me ajudou a crescer, me ajudou a reavaliar meus valores e desejos, meus compromissos e inquietações.


Assim como nessa conversa eu cresci, aprendi e me tornei um pouquinho sábia com relação a vida, posso dizer que com meus erros e com os erros de meus amigos, bem como com meus acertos e os acertos de meus amigos; ou simplesmente em conversas, leituras, aulas, festas, ficadas, brigas, namoros, filmes, músicas -- todas essas coisas que nos fazem um pouco mais nós mesmos e que nos fazem saber e sentir que estamos vivos -- com todas essas vivências foi possível crescer.


Me sinto mais velha hoje, e sinto saudades da adolescente e da criança que fui. Sinto falta da minha inocência, apesar de não a ter perdido por completo. Ao mesmo tempo não sinto falta alguma, porque cada detalhe, cada coisinha que vivi está em mim, no que sou hoje. Mas talvez me orgulhe de ainda manter uma ingenuidade romântica. Se me sinto melhor comigo hoje do que ontem? Bem não sei exatamente responder, mas arrisco à dizer que sim. Talvez possua um único arrependimento na vida, e este talvez meus amigos mais próximos saibam qual é, mesmo sem precisar que eu fale.


Certas coisas que vivemos nos deixam marcas que nunca serão fechadas por completo. Lembro de coisas de minha infância e de minha adolescência que me marcaram muito. Me lembro de chacotas na infância por ser gordinha; me lembro de outras chacotas na adolescência por ser a menina estranha que ouvia rock e vestia preto; e outras ainda por ser branquinha. Me lembro dos olhares ao dizer que faria Filosofia. Me lembro com muita dor da morte de um amigo que via como um irmão (Saudades Elfo!). Me lembro dos meus medos, angústias e sonhos (muitos deles perdidos com o passar do tempo). Me lembro das promessas que fiz e que me fizeram, das juras de amor eterno que nunca se cumpririam (hoje lembro disso sem remorso, e sei o quanto tudo parece tão desastroso para um adolescente). Mas sei também que tudo é necessário para que envelheçamos com saúde; aprendendo sempre, nos tornando mais sábios. Me lembro de brigas, discussões, brincadeiras, passeios, conversas na escada da minha casa (aaahhh se aquelas escadas falassem!)


Óbvio que sinto saudades de cada momento: dos ruins porque foram com eles que me tornei mais forte; e dos bons porque com eles aprendi a levar a vida com mais beleza e satisfação. Mas o tempo nos leva, a cada um de nós e, desta maneira,  nos resta viver o tempo que se prolonga com cada instante que passa. Só com o tempo foi possível cada vivência, cada experiência. E somente com ele será possível viver cada vez mais e mais. Somente com ele é possível envelhecer e nos tornar um pouco mais nós mesmos.


Sou o conjunto de minhas vivências! (Os filósofos da corrente fenomenológica e existencial, adorariam essa frase. Aliás, acredito que seja de um deles uma frase bem similar à esta, só não consegui lembrar a fonte exata). E junto com as minhas vivências vem o tempo, inseparável e indispensável . Somente com o tempo é que concretizo as minhas vivências; a cada instante do tempo eu vivo, sou e estou aqui.